A publicação de um trabalho realizado após quase uma década da sua apresentação, coloca sempre várias questões aos autores, a primeira é a da simples e mais fácil recusa, depois a vontade de revisão, a releitura, a interpretação, o condicionamento e a moldagem a um tempo que já conhecemos, dando a ideia de se estar a resolver um quebra-cabeças sabendo já a solução. Por fim o confronto com o verdadeiro rosto, espelhando e assumindo o real como expressão das invisíveis cronometrias e da dimensão relacional que nos faz lembrar as pessoas, as suas obras, as circunstancias, as palavras, presentes e ausentes e as motivações que tornaram possível que este trabalho fosse assim construído, concebido e agora publicado, sem filtros nem adaptações.

Pensamos que a dimensão humana do tempo na sua frágil condição relacional, a procura da sua expressão e rosto, não se deve apagar, escamotear, sequer rasurar ou corrigir, neste processo e, nessa medida, a proposta de publicar na integra este trabalho reflete essa particular convicção, de queremos acreditar que todo o passado inscreve uma ideia de futuro, e é precisamente na descoberta dessa ideia que reside o seu e talvez mais genuíno valor, abrindo campos de visão e de reflexão, tornando-se fonte para uma diferente leitura propondo-nos o desafio de uma descoberta permanente.

Existem seguramente outras razões que justifiquem a publicação deste trabalho que agora se faz. É preciso sempre desconfiar da razão que nos cilindra a emoção da descoberta e do prazer do conhecimento, contudo devemos assegurar que a principal razão poderá assentar no gosto do cumprimento de um desejo expresso pelo então orientador da tese o Professor e arquiteto Bernardo Ferrão, cuja inesperada partida, não lhe permitiu dar a continuidade esperada nem conhecer o resultado desse tempo solitário dedicado a um tema que nos parecia ser fundamental para a compreensão dos novos caminhos da arquitetura, do arquiteto, do modo de projetar e sobretudo do modo de habitar os espaços que construímos.

Por isso as primeiras palavras de agradecimento são lhe merecidamente dedicadas; testemunham essa circunstância e dirigem-se para este ser humano verdadeiro e dedicado que gostaria de lembrar, reconhecendo o seu apoio, a sua exclusiva dedicação a uma causa, que não sendo sua, no início, foi capaz de a incorporar como fundamento para uma nova linha pedagógica que subtilmente experimentou no ensino do projeto da habitação colectiva na realizado na disciplina Projeto 3 do curso de arquitetura da Faculdade de Arquitetura da Universidade do Porto, de que foi regente.

Um outro especial agradecimento dirige-se ao Professor, Investigador e Arquiteto António Baptista Coelho, que muito me honra com a sua contribuição escrita no prefácio desta obra expondo e apresentando uma diferente visão para uma nova leitura dos conceitos inerentes ao modo de projetar a arquitetura e sua intrínseca relação com os modos de a habitar. O seu texto é a pura expressão de uma legítima vontade de quem dedicou toda uma vida à investigação, ao estudo e á disseminação do saber sobre a habitação em Portugal e na lusofonia que há muito tempo inventamos e que agora voltamos a reinventar.

Melhor disse Almada “Nós não somos do tempo de inventar as palavras. As palavras já foram inventadas. Nós somos do século de inventar outra vez as palavras que já foram inventadas.”

É precisamente por isto que decidimos aceitar o desafio da publicação deste trabalho que foi já passado, agora presente e deseja algo futuro. Tudo para irmos ao encontro desse rosto que procuramos ser e sentirmos mais do que um certo tempo, terá passado o tempo certo.